Uma solução arquitetônica para reduzir a fome nos grandes centros urbanos e recuperar o meio ambiente: esse foi o tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da arquiteta e urbanista brasileira Ana Carolina Borile. O projeto está entre os 76 premiados no iF Design Student Award 2024, premiação estudantil promovida pelo iF Design que reconhece novos talentos da arquitetura e do design mundial. Nesta edição, o concurso que é realizado anualmente há mais de duas décadas recebeu mais de 7 mil conceitos de estudantes de 72 países ao redor do mundo.
Intitulado “A.Colher – Agricultura Urbana como Agente de Transformação Socioambiental”, o projeto de Ana teve a orientação de Patrícia de Freitas Nerbas, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul. Com 24 anos de idade, a brasileira premiada celebra a premiação no início de sua carreira profissional. “Fui bolsista durante a graduação, e alcançar uma conquista como esta é algo incrível e transformador. Acredito que vai abrir portas para que eu consiga direcionar a minha prática na arquitetura para projetos voltados ao desenvolvimento sustentável, o que é meu grande objetivo profissional”, afirma Ana Carolina.
A jovem diz que está lisonjeada por representar o Brasil na premiação. “É muito significativo receber um prêmio tão importante que reconhece as boas práticas de design em relação à sustentabilidade justo quando mais precisamos, com toda a questão das inundações e a falta de preparo das nossas cidades aqui no Rio Grande do Sul, e no país inteiro”, sublinha. “Acredito que todo reconhecimento e difusão de trabalhos com essa pauta são fundamentais para que a gente consiga agir para mitigar situações como a tragédia que assola o estado neste momento”, completa a arquiteta, que vive em Porto Alegre.
Os projetos vencedores do iF Design Student Award 2024 serão celebrados na próxima quinta-feira, dia 13 de junho, em uma cerimônia de premiação em Milão, na Itália. O Centro Brasil Design, que representa o iF Design no Brasil, será representado no evento por Hivio Fabiano Meira Silva, coordenador de marketing e designer de experiência de produto na Natura. Os vencedores receberão seus prêmios do CEO do iF Design, Uwe Cremering, no Museu Triennale di Milano. “Mais uma vez, estamos fascinados pelo poder inspirador de jovens talentos do design de todo o mundo, que trabalham com coragem e paixão para tornar o mundo um lugar melhor com suas ideias”, afirma Cremering.
O iF Design Student Award tem 15 categorias de premiação, que representam os diferentes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Assembleia Geral das Nações Unidas: erradicação da pobreza; fome zero e agricultura sustentável; saúde e bem-estar; educação de qualidade; igualdade de gênero; água limpa e saneamento; energia limpa e acessível; trabalho decente e crescimento econômico; inovação infraestrutura; redução de desigualdades; cidades e comunidades sustentáveis; consumo e produção responsáveis; ação contra a mudança global do clima; vida na água e vida terrestre.
Quatro brasileiros integraram o júri do iF Design Student Award 2024. A primeira etapa do júri, realizada de maneira online, contou com as contribuições da arquiteta Cristina Menezes, que está a frente do escritório Cristina Menezes Arquitetura, em Belo Horizonte (MG); Tatiana Ferrucio Ferreira, designer industrial na LIXIL Global Design; e Hivio Fabiano Meira Silva. Leticia Castro, diretora superintendente do Centro Brasil Design, integrou o júri final que foi realizado em Berlim, na Alemanha, no dia 26 de abril.
Arquitetura contra a fome
Em seu TCC premiado, Ana Carolina Borile desenvolveu um projeto experimental de um edifício em Porto Alegre que funciona como uma fazenda urbana, aliando os usos do cultivo agrícola protegido, com a produção de alimentos indoor de forma consciente e sustentável, e a comercialização destes alimentos a baixo custo, em um equipamento pautado nas premissas da arquitetura sustentável. O projeto viabiliza ainda um polo gerador de empregabilidade e renda, voltado principalmente para a população em situação de vulnerabilidade social.
“A ideia surgiu depois de passar alguns meses em casa, durante a pandemia, e perceber que os noticiários mostravam diariamente a problemática da insegurança alimentar, que se agravava no Brasil e no mundo. Comecei a pensar em como eu, enquanto futura arquiteta, na época, poderia intervir. Foi então que descobri a agricultura urbana, já comum em outros países, como forma de lidar com a crise alimentar”, explica.
“O projeto é resultado de uma investigação sobre como viabilizar do modo mais sustentável possível — em termos de tipologia, local de inserção, materialidade e estratégias de eficiência energética — o programa da produção agrícola no meio urbano, a partir do clima brasileiro, mais especificamente para o cenário do Rio Grande do Sul, já que o projeto se localiza em Porto Alegre”, diz Ana.
O projeto se insere principalmente no ODS 2 da ONU, que trata da Fome Zero e Agricultura Sustentável, por explorar a produção de alimentos com menor impacto ambiental, ao mesmo tempo que amplia a oferta e facilita o acesso a alimentos com menor custo ao consumidor que mais necessita. “Ao produzir alimentos no meio urbano conseguimos, por exemplo, reduzir a cadeia produtiva e aproximar o comprador do produtor, reduzindo os custos e o desperdício”, afirma a arquiteta.
Sobre o CBD
O Centro Brasil Design – CBD é uma instituição que conecta pessoas, setores do governo, empresas e criativos com o objetivo de viabilizar projetos inovadores e negócios de sucesso. Atua há 25 anos promovendo a importância do design e da inovação, como utilizar o design de forma estratégica e sua importância para a competitividade junto às empresas brasileiras. Foi a primeira instituição brasileira de design a aderir ao Pacto Global, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em 2018. Nesse sentido, o CBD lançou em 2021 o Design for a Better World Award – DFBW Award, um prêmio que tem por objetivo identificar, reunir e premiar ideias transformadoras, levar ao mundo, dar voz e visibilidade aos envolvidos na criação de soluções de impacto positivo, alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e as práticas ESG, promovendo e multiplicando as boas soluções para o desenvolvimento econômico, social e a responsabilidade socioambiental.