A ABEMEL, fundada em 15 de agosto de 2003, é a entidade com maior representatividade das empresas beneficiadoras e exportadoras de produtos apícolas do Brasil. Atualmente, representa 80% das exportações setoriais e trabalha para otimizar o desempenho das exportações setoriais, facilitando o acesso aos mercados e negociações com toda cadeia produtiva. Atua como membro ativo na Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Mel e produtos Apícolas, interligando-se com os poderes públicos.
O MEL BRASILEIRO
O Brasil exportou mais de 16 mil toneladas de mel em 2013. Grande parte deste produto chega ao exterior a granel, em galões de até 50 litros. No destino final, é então submetido a embalagens padrões – todas muito parecidas entre si. Ou seja: o produto acaba perdendo sua identidade e se mesclando aos concorrentes sem conseguir destacar-se nas prateleiras. Embora seja um produto já muito bem visto pelo mercado internacional, as embalagens a que era submetido não condiziam com sua qualidade. “As embalagens até então existentes no mercado não eram muito funcionais e nem sempre atendiam às necessidades que o produto demandava, como, por exemplo, adequar-se à questão da temperatura para descristalização do mel quando em banho-maria”, explica Flávia Salustiano, gerente da ABEMEL.
Era necessário reforçar a origem dos produtos apícolas brasileiros no exterior. Melhorar a identidade do produto para que ele conquistasse maior competitividade nas gôndolas do mercado europeu, asiático, norte-americano e do Oriente Médio, com embalagens que estivessem à altura do produto. Afinal, o mel e a própolis brasileiros se diferenciam pela qualidade, uma vez que as abelhas nacionais são mais resistentes do que as demais e não adoecem, dispensando antibióticos – o que acarreta um produto final livre de resíduos.
E foi com esse objetivo que a ABEMEL aderiu ao Design Export – programa realizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e pelo Centro Brasil Design que apoia empresas brasileiras no desenvolvimento de produtos inovadores e com design diferenciado voltados à exportação. O programa deu à ABEMEL consultorias e ferramentas necessárias para que, junto a um escritório de design, pudesse criar embalagens inovadoras para os produtos apícolas nacionais.
O PROCESSO
A Abemel conta com 30 empresas associadas em regiões variadas do país – e cada qual com uma realidade distinta. “Do ponto de vista de negócios, o maior desafio foi entender a realidade das empresas da associação, que são de portes, plantas de beneficiamento, fornecedores, compradores, gestão e estratégias diferentes”, explica Katiane Gouvêa, consultora do Design Export que acompanhou o case em todas as etapas. “E o projeto tinha que atender a todos”.
O foco do case não foi no aumento da produção em si, e sim, na agregação de valor aos produtos por meio de uma linha de embalagens diferenciada. O mel é um alimento saudável com propriedades terapêuticas – características que não eram evidenciadas nas embalagens padrão. Para mudar esse cenário, a ABEMEL optou por trabalhar com o escritório de design Müller Camacho, que utilizou a metodologia Design Total de Embalagem, que integra design da forma, tecnologia e conversão, acondicionamento e rotulagem com branding e comunicação. Como resultado, obtém-se originalidade no PDV com vantagem competitiva.
Manoel Müller, diretor da Müller Camacho, acredita que seu escritório tenha sido escolhido por ter uma experiência de mais de 25 anos, e conta que achou a ideia de embalar o mel brasileiro e colocá-lo no mercado exterior um desafio muito grande. “Criamos o design de uma embalagem funcional, atraente, econômica pra posicionar e valorizar o produto brasileiro”, explica.
O projeto foi feito de forma participativa e observou as demandas e questões técnicas e mercadológicas apresentadas pelas empresas. Para entrar no mundo da apicultura e compreender as exigências e desafios da empreitada, a equipe da Müller Camacho fez visitas aos locais onde o mel e própolis são cultivados. Feito isso, o que chamou a atenção dos designers foi a vida “geométrica” que a abelha leva – ideia que foi levada aos frascos. “Queríamos uma embalagem que nos desafiasse, que desafiasse a indústria, que pudesse servir a todo esse espectro de novas tecnologias”, afirma Manoel.
Katiane explica que era essencial criar frascos que preservassem a qualidade do alimento, mas que também tivessem uma logística de escoamento segura e evitassem a falsificação. O vidro foi o material escolhido por dar um ar de pureza e por valorizar o produto.
Para a embalagem do mel, primeiramente foram criadas 15 soluções, que posteriormente foram reduzidas a dez, até que se chegasse à ideia do pote octaedro. As vantagens do modelo eleito são que ele possui duas opções de tampas, forma diferenciada e que permite o empilhamento, além de propiciar um jogo de luz que valoriza a pureza do mel. Como bônus, ainda foi possível garantir uma redução de cerca de 27% no valor da embalagem.
Para a própolis, foi trabalhada a ideia de que se trata de um alimento diferenciado. A Müller Camacho resolveu então criar uma forma que agregasse valor a ele. “A ideia era romper com a imagem comum”, conta o diretor. As novas embalagens agora contam com um formato único, que enobrece o produto, e dificultam a falsificação.
Já as bisnagas de mel foram criadas visando à funcionalidade, para que se adaptassem às circunstâncias, facilitando a vida dos consumidores. A solução encontrada permite que a bisnaga seja colocada de cabeça para baixo ou para cima e a escolha de um material resistente permite que o produto seja colocado em banho maria, facilitando a descristalização do mel em casa. Essa escolha coloca o alimento em vantagem em relação aos concorrentes, já que o material aguenta temperaturas mais elevadas do que as embalagens que estão no mercado hoje.
As novas embalagens da ABEMEL propiciaram, assim, um novo posicionamento de produto, mostrando toda sua versatilidade e ficando à altura da qualidade do produto exportado, além de impactar na redução do custo de produção.
RESULTADOS
O case da ABEMEL se destaca dentre os projetos apoiados pelo Design Export pelo fato de se beneficiar não somente empresas pontualmente, mas também, por beneficiar o setor por inteiro, permitindo a adesão por diversas empresas. Flávia acredita que os produtos poderão ser vendidos com melhor valor, já que a nova identidade visual agregou muito aos produtos apícolas. Com o projeto, o setor acabou se mobilizando para ir além. Paralelamente à nova linha de embalagens, as empresas têm trabalhado no desenvolvimento de um selo de qualidade do setor.
O próximo passo para a ABEMEL agora é partir para a segunda etapa do projeto: o design gráfico, que será realizado em parceria com a Apex-Brasil. “As empresas se desenvolveram a partir dessa experiência, e acredita-se que o design será, sim, uma vertente a ser observada pelos parceiros envolvidos. Entendemos a importância do design na agregação de valor e o setor tem excelentes perspectivas sobre os resultados futuros”, finaliza.